sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Kindle

Essa semana, fui inquirido para falar sobre o impacto do Kindle (se não sabe o que é, clique aqui * vlw Carina) no mercado editorial e como esse aparelhinho (diminutivo nada afetivo) pode virar tendência também no Brasil.

OK, com certeza vai virar tendência nos EUA, na Europa talvez, mas no Brasil? Sem querer ser Mãe Diná, mas já dando meus pitacos sobre o futuro, acho muito difícil que vire tendência assim tão fácil.
Por mais que a elite brasileira tente se manter nas tendências ditadas pelos americanos, nosso grande país não é formado somente por elite (óbvio). Temos também o pessoal que pega ônibus, que anda a pé, que tem receio e insegurança. Esse é o primeiro argumento para dizer que, quem em sã consciência vai pegar um ônibus com um aparelho do tamanho de um livro que custa mais que um Ipod? Como costumo fazer minhas leituras nos coletivos, eu mesmo não seria tão corajoso. Só vingou realmente com o Ipod porque ele é pequeno e dá para esconder no bolso. Como vou esconder meu Kindle na mochila?!

Tá, mas e a praticidade de levar uma biblioteca inteira em um só aparelho? Vejamos, quem se lembra do velho Discman? Era um barato, você podia escutar seu CD em qualquer lugar. Com os livros é bem parecido; você consegue levar seu livro na bolsa e ler na hora que for mais cômodo. Porém, vieram os mp3 e os Ipods para destruir o velho Discman e deram a possibilidade de guardar uma discoteca inteira em um aparelho só. Você pode estar afim de ouvir 30 músicas de artistas e ritmos diferentes enquanto está caminhando, dirigindo, viajando, correndo. Perfeito. Mas diga, quantos livros diferentes você vai querer ler durante uma viagem de 30 minutos? Um romance simples de 200 páginas eu costumo ler em um fim de semana inteiro livre, ou 3 semanas de viagens de ônibus. Acabou o livro, voltou pra preteleira e eu peguei outro. Por mais que eu esteja lendo 3 livros ao mesmo tempo, um técnico, um romance e um romance diferente para a faculdade, jamais precisarei dos 3 na minha mochila, muito menos de 1500.

Outro argumento seria o incômodo que é ler em aparelhos como Iphone e semelhantes. Porém, o Kindle não emite luz, e tem uma e-ink parecida com aquele quadro mágico para crianças, que não força a vista. Hoje, a tecnologia ainda está precária, como se fosse aquele velho celular analógico. Não existe tinta colorida e ainda demora um pouco pra passar de uma página para a outra. Dessa forma, não é possível ver gravuras, nem as belas capas que os livros costumam ter. Em breve, os cientistas vão melhorar isso aí, não tenho dúvidas. Daí eu me pergunto, como eu vou ganhar um livro de presente? Como eu vou levar meu livro para o escritor autografar? Como eu vou sentir o papel, constatar a qualidade dele, ler a sobrecapa? Como vou tentar ler o título do livro que a pessoa próxima, desconhecida, está lendo e alimentar minha curiosidade? Onde vai ficar todo o charme de mais de 500 anos de tradição?

Com autores estrangeiros aderindo cada vez mais a essa tecnologia e forçando as editoras brasileiras a produzi-la, menos livros físicos no mercado, mais visitas aos sebos. Simples assim.

Pode ser que daqui a 9 anos eu leia esse post e cave um buraco no chão para enfiar minha cabeça, mas pode ser que daqui a 9 anos eu preveja o novo Apocalipse. Quem sabe?

Abraço para quem fica,

Guto Pina